
Categoria: Artigos
Data: 10/07/2024
Lições de hoje para não ser esquecidas nunca
Há três tipos de situações na vida de uma pessoa que são geralmente muito críticas, e para alguns, absolutamente devastadores e insuperáveis. São os momentos de descobrir “O-Não-Saber”, “O-Não-Poder” e “O-Não-Ser”!
Para alguém acostumado a saber de tudo um pouco, o chamado generalista, ou para aquele especialista que sabe muito de uma determinada área de conhecimento ou assunto, de repente deparar-se com algo que não sabe é algo natural no primeiro momento. Afinal de contas, quem sabe tudo?
No entanto, há pessoas para quem saber mais do que os outros já se tornou a sua própria identidade, aquilo que lhe dá valor e reconhecimento diante dos outros. São os sabichões, que fazem do conhecimento algo a ser exibido aos quatro cantos. Dê o tema e essa pessoa faz um discurso, cita estatística, conta experiências, corrige as informações dos outros etc. e sai com a sensação de que é mais inteligente do que todos os meros mortais. Até que essa pessoa se apavora diante do fantasma de um absoluto “não saber”, que a faz desorganizar-se completamente.
Para outros, a sua identidade e valor estão associados ao poder. É aquele que está acostumado a poder tudo, a mandar e os outros fazerem, a não ter limites nos seus desejos e vontades, a demonstrar o seu poder, por meio do controle que exerce sobre os outros, dobrando toda resistência e conseguindo o que quer. Tais pessoas farejam fracos para oprimir e fortes para superar, como presas de seu domínio. Eles estão sempre em competição. Vivem na vida uma partida de War, na qual jamais perdem. No máximo, empatam. Estes são os poderosos, aqueles que fazem do poder que o dinheiro ou o status lhe dão, uma forma de tentar controlar a própria vida e a dos outros, as circunstâncias presentes e até o próprio futuro.
Mas, como se sabe, ninguém é todo poderoso. O poder sem caráter é maldade em estado puro e mandar sem maturidade resulta nas maiores tolices. Imagine alguém no topo da pirâmide social, que aparenta ser Chief Executive Officer (CEO) da própria vida, e das vidas de outros, de repente ouvir de um médico em um check up de rotina: “O senhor está com câncer terminal e tem poucos dias de vida!” Que desespero deve ser! Na escola da vida, a lição do “não-poder” é humilhante tanto quanto mais iludida e enebriada a pessoa estiver com o próprio poder até ficar claro que ele nada pode fazer. É aquela história de quanto mais alto, maior a queda!
Para outros, o problema é ser o que quiser ser, seja lá o que for. Há gente que precisa aparecer, estar no centro das atenções, ser a pessoa admirada, a estrela que ofusca a todos ao seu redor, aquele a quem os holofotes buscam, as telas expõem, milhões seguem nas redes sociais, as plateias aplaudem e todos dizem “Wow!”. Estes são as celebridades reféns do próprio narcisismo, aqueles que fazem de sua beleza, juventude, fama e sucesso aquilo que lhes dá valor diante dos outros e até diante de seu próprio espelho.
Imagine o dia seguinte quando essa pessoa famosa passa a ser uma pessoa comum, que não está mais em evidência, que caiu no ostracismo, envelheceu e deixou de ser bonito e por isso, ninguém mais a admira. Alguém que não é mais chamado para nada, não está mais em nenhuma lista de convidados para aqueles eventos supercobiçados. Nenhum programa de TV convida, ninguém mais liga, e pior: a pessoa começa a perceber outros tomando o seu lugar, sendo mais elogiados, admirados por mais fãs e seguidores. Que terrível deve o-não-ser mais!
Uma das mais fascinantes histórias da Bíblia é a de um homem que aprendeu que o conhecimento, o poder e a fama não preenchem o coração humano. Salomão, o grande rei de Israel, aprendeu a não saber, a não poder e a não ser, mas infelizmente somente no fim de sua vida. Ao escrever sobre a sua experiencia em um dos livros da literatura sapiencial, compartilhou esse aprendizado tão duro e necessário para cada um de nós, com uma advertência clara: quanto mais cedo aprender isso, melhor será.
Ele recomenda: “Alegra-te, jovem, na tua juventude, e recreie-se o teu coração nos dias da tua mocidade; anda pelos caminhos que satisfazem ao teu coração e agradam aos teus olhos; sabe, porém, que de todas estas coisas Deus te pedirá contas. Afasta, pois, do teu coração o desgosto e remove da tua carne a dor, porque a juventude e a primavera da vida são vaidade. Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer”.
A conclusão proposta por Salomão para evitar a amargura que pode vir desse difícil aprendizado é expressa nesses três verbos: alegrar-se, afastar-se e lembrar-se. E pode ser sintetizada nesses termos: “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem”
O temor do Senhor é o grande tema da literatura sapiencial, da qual Salomão é um grande escritor. A raiz desse verbo yare, traduzido por temer, aparece mais de 465 vezes no Antigo Testamento em hebraico, significando “medo” ou “reverência que conduz à admiração e adoração”. É exatamente isso que Salomão quis dizer: encontrar-se com Deus pode ser apavorante, ao fim de uma vida cheia das vaidades em saber tudo, em poder tudo e em ser tudo. Para essas criaturas, encontrar-se com o único que, por natureza divina, é o único Onisciente, Onipresente e Onipotente, será apavorante.
Porém, para aqueles que temem ao Senhor durante a sua vida, do lado de cá da eternidade, tal encontro pode ser simplesmente mais um reencontro com aquele com quem, e para quem, se viveu cada dia, guardando os seus mandamentos, admirando e o adorando pela obediência, como é dever de todo homem.
Para o seu bem, alegre-se com as coisas boas da vida, mas com limites, afaste do seu coração a tristeza porque a liberdade na vida nunca será absoluta e lembre-se do seu Criador, enquanto é tempo, antes que venham os maus dias e “O-Não-Saber”, “O-Não-Poder” e “O-Não-Ser” tiverem que ser aprendidas, de uma forma ou de outra.
Com carinho,
Rev. Dr. Robinson Grangeiro Monteiro
Chanceler do Mackenzie