Categoria: Artigos
Data: 17/03/2023
Culto Doméstico: Uma atividade ignorada por muitos
Valdeci Santos

        Culto doméstico é a prática regular da família reunida para leitura das Escrituras, orações uns pelos outros e cânticos de louvores a Deus. Geralmente essa atividade é liderada pelo esposo crente, mas em algumas ocasiões essa liderança acaba sendo compartilhada com os demais integrantes do lar. A família foi a primeira instituição divina e é importante que cada cristão repita as palavras de Josué: “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Josué 24.15).

Antes de tudo é importante lembrar que essa atividade é um culto, no qual Deus é adorado em espírito e em verdade. Primeiro, o Senhor é adorado na união e ajuntamento da “igreja doméstica” pelos santos que constituem a família (Salmo 133). Depois, ele é honrado mediante a leitura e explicação de sua Palavra aos presentes (Deuteronômio 6.6-9). Também, ele é cultuado por meio das orações e intercessões de seus filhos, às quais sobem como incenso aromático à sua presença (Apocalipse 5.8). A oração é o principal meio pelo qual o crente expressa sua gratidão a Deus (Catecismo de Heidelberg, pergunta 116). E, por último, ele é exaltado pelos louvores, os quais são fruto de lábios que confessam o seu nome (Hebreus 13.15). Assim, o culto doméstico não é simplesmente uma atividade legalista e sem propósito, mas uma disciplina espiritual edificante.

É necessário esclarecer que o culto doméstico precisa ser regular, ou seja, não dever ser uma atividade esporádica ou acidental. Em outras palavras, esse momento precisa ser incorporado a agenda diária da família. A regularidade de qualquer disciplina se transforma é em hábitos e esses, por sua vez, influenciam nossa personalidade. Por exemplo, a disciplina da higiene pessoal geralmente se reflete no hábito da escovação dos dentes após as refeições, o que acaba afetando a personalidade de alguém. O mesmo ocorre com as disciplinas espirituais. No caso do culto doméstico, o mesmo que já foi percebido por inúmeros crentes piedosos ao longo da história deve ser compreendido pelos cristãos contemporâneos, ou seja, o culto público uma vez por semana não é suficiente para renovar nossas forças espirituais para a vida diária em um mundo caído. Necessitamos do recurso e prática da devocional doméstica!

Alguém pode objetar que Deus não exige, explicitamente nas Escrituras, a prática do culto doméstico. De fato, não há nenhum mandamento específico ou versículo bíblico abordando apenas esse tópico. Contudo, é necessário observar que antes de Deus instituir o culto no Tabernáculo, no Antigo Testamento, o seu povo o adorava em família nas tendas com vozes de júbilo (Salmo 118.15). Também, é mister observar que um dos propósitos de Deus ao escolher Abraão (o pai da fé) foi para que ele ordenasse aos seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardassem o caminho do Senhor e praticassem a justiça e o juízo (Gênesis 18.19). Há que se lembrar ainda do exemplo de Jó, orando pelos seus filhos (Jó 1.5), bem como o de Lóide e Eunice ensinando as sagradas letras ao jovem Timóteo (2Timóteo 1.5). O próprio Jesus ensinou que o crente deve recorrer à oração no ambiente doméstico (Mateus 6.6). A verdade é que há alegria e bênção no fato de podermos anunciar as misericórdias do Senhor pelas manhãs (Salmo 92.1-2). Todas essas práticas abençoadoras podem ser realizadas no culto doméstico.

Mas como implementar o culto doméstico? Como cultivar essa disciplina de maneira que não se torne enfadonha e nem legalista? Essas são perguntas importantes, pois a imprudência nesses assuntos acaba por atropelar todo o processo e desmotivar muitos nessa prática. Há sempre o caso daquele pai que gostaria de ler vários capítulos da Bíblia, seguidos por tantos outros de algum livro do seu teólogo preferido ou mesmo aqueles que sempre escolhe textos bíblicos que confrontem seus filhos e defenda o seu procedimento no âmbito familiar. Quando isso acontece, o ambiente deixa de ser cúltico e a atividade se torna enfadonha.

Objetivando ajudar, deixo aqui algumas sugestões a respeito da implementação dessa disciplina. Certamente alguém criativo encontrará tantas outras dicas úteis a esse respeito:

1.     Estudo sobre o assunto. Há vários livros, artigos e até vídeos na Internet com boas orientações sobre essa prática. A esse respeito, o livro Adoração no Lar, de Joel Beeke, é fundamental, mas há também o artigo de Márcia Barbutti (clique aqui para ler).

2.     Há mais de uma maneira correta de se realizar o culto doméstico. Cada família possui a sua própria dinâmica. Assim, se o que será lido é uma passagem das Escrituras ou algum trecho de um livro devocional que comenta uma passagem bíblica ou se haverá cânticos ou não, não é o mais importante. O inegociável a esse respeito é que a família se reúna para aprender algo das Escrituras e ore junto, adorando e prestando culto a Deus.

3. Escolha o momento mais adequado para sua família. A ideia de ter toda a família ao redor da mesa ou no sofá da sala é muito agradável, mas pode não ser factível para muitos. A correria do dia permite que alguns tenham a família reunida apenas no percurso de levar as crianças para a escola ou alguns instantes antes do horário de dormir. Nesse sentido, utilizar esses poucos minutos e essas ocasiões é melhor do que deixar de realizar o culto doméstico. Por exemplo, enquanto o pai dirige, alguém pode ler um texto bíblico e usarem o período do percurso para conversarem sobre o que foi lido. Enfim, a família reunida deverá escolher o memento mais adequado para essa prática.

4. Mantenha o momento simples e objetivo. Devoções simples e rápidas são, no geral, mais eficientes do que longos momentos de discussões teológicas. Afinal, discussões acabam alimentando o espírito do debate e a vaidade de que “eu estou certo e vocês estão errados”. Essas atitudes negativas não correspondem ao propósito do culto doméstico, que envolve crescimento espiritual.

5.     Faça dessa atividade uma prática constante. Consistência é uma excelente ferramenta pedagógica! Todos os membros da família são beneficiados se eles já incluem na agenda diária um tempo para ler, meditar e aprender as Escrituras, bem como buscar a graça do Senhor no ambiente do lar.

6.     Se houver crianças, deixe que elas participem revelando seu entendimento sobre o texto bíblico. Provavelmente os pais ficarão surpresos ao observarem como seus filhos raciocinam teologicamente! A mente da criança humana foi preparada para responder a Deus desde a mais tenra idade. Esses pequenos teólogos acabam crescendo no conhecimento do Senhor e nos ajudam a refletir sobre alguns assuntos da Palavra a partir de outra perspectiva.

7.     Se houver crianças, deixe que elas apresentem seus pedidos de orações. Provavelmente esses pedidos não incluirão o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia, nem mesmo o nome do último membro da igreja que foi diagnosticado com câncer. Mas esses pedidos podem dizer respeito a um colega de escolha, a alguma professora que teve que se ausentar por um problema de saúde ou mesmo pela dificuldade que essas crianças enfrentam para se integrarem no grupo dos coleguinhas da escola. De qualquer maneira, é importante que elas saibam que seus problemas (ainda que pequenos para os adultos), não passam desapercebidos aos olhos e ouvidos de Deus.
 
Depois de todas essas linhas acima, resta perguntar: E você? Já pratica o culto doméstico? Se ainda não, que tal iniciar?


Autor: Apecom   |   Visualizações: 3893 pessoas
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