Categoria: Artigos
Data: 05/03/2024
Bem-estar e válvulas de escape

O ‘efeito cauda longa’ da pandemia da COVID-19 ainda pode ser sentido, especialmente sobre o bem-estar e a saúde mental da população. Em levantamento do Estadão (4/3/24), com base no Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, o número de mortes por transtornos mentais associados ao uso abusivo de álcool (CID-F10), em 2022, cresceu 33% com relação a 2019. 

Qual é a correlação que poderia haver entre a pandemia e esse crescimento de mortes? Os pesquisadores admitem que não é possível traçar um nexo causal, mas apontam que, para além de outros fatores, ‘o aumento de quadros de ansiedade, depressão e transtornos mentais’ no mesmo período aponta para a hipótese que tem havido uma associação de fatores, tais como o uso abusivo de álcool, com sintomas descritivos de transtornos mentais, os quais convergiram para explicar o aumento de mortes, especialmente entre os mais idosos, um dos segmentos populacionais mais afetados pelo isolamento social. 

Na mesma temática de Ambiência, Bem-estar e Projeto de Vida, proposto à reflexão da comunidade mackenzista em 2024, é de bom alvitre considerar de que maneira o bem-estar é associado ao coping, ou seja, ao “conjunto de esforços, cognitivos e comportamentais, utilizado pelos indivíduos com o objetivo de lidar com demandas específicas, internas ou externas, que surgem em situações de stress e são avaliadas como sobrecarregando ou excedendo seus recursos pessoais” (Lazarus & Folkman, 1984).

Não é infrequente o uso abusivo de álcool e outras substâncias, como válvulas de escape, as quais não se constituem no melhor repertório adaptativo para lidar com o estresse típico da vida acadêmica e profissional, seja na condição de professor, seja como estudante, pois ‘válvulas de escape’ não são sinônimo de saber lidar com essas situações.

Considerando que estratégias de coping podem ser aprendidas, usadas e, quando convier ao indivíduo, até mesmo descartadas e substituídas por outros, é necessário entender, os conceitos principais envolvidos em promoção de bem-estar por meio de estratégias de coping, segundo o modelo de Folkman e Lazarus (1980).

Primeiramente, que o coping passa pela interação do indivíduo e o ambiente. Em segundo lugar, que a melhor gestão de situações estressoras, pode envolver controle da situação, ou simplesmente, evitação das situações estressoras, até o limite do que é possível ao indivíduo evitar. Que nos processos de lidar é necessária uma avaliação individual, incluindo percepção e interpretação de todos os fatores e agentes estressores, e finalmente, em uma mobilização de esforços cognitivos e comportamentais para administrar (reduzir, minimizar ou tolerar) as demandas internas ou externas surgidas dos elementos anteriores.
Não é preciso dizer que a fuga e o entorpecimento mental promovido pelo álcool e outras substâncias, não somente atrapalha esse coping, que exige o recrutamento consciente de todos as funções mentais, como pode até mesmo alimentar as disfuncionalidades e potencializar transtornos mentais latentes. Em outras palavras, não adiantar “beber para esquecer meus problemas”. 

A proposta de uma saúde integral e equilibrada (bio-psico-social e espiritual) é a melhor estratégia para um coping que promove ambiência saudável, bem estar e projeto de vida realizador. Há um papel do indivíduo e da instituição nesse esforço conjunto, inclusive em atos de gestão que não favoreçam a toxicidade do ambiente profissional e acadêmico e todos os tipos de abusos decorrentes. 

Do ponto de vista da Chancelaria e suas Capelanias em todas as instâncias do Mackenzie, a oferta de uma escuta acolhedora, do desenvolvimento de ambientes colaborativos pela integração do elemento da espiritualidade às interações e atividades acadêmicas e administrativas e, de momentos de cultivo devocional de uma vida com Deus e para serviço ao próximo, promovem competências importantes para os mackenzistas saberem lidar com a vida e seus desafios. 
Confiamos plenamente que a aceitação contínua do convite de Jesus não é escapismo alienante, pelo suposto ópio da religião, mas um retorno ao refrigério proposto pelo Criador no paraíso perdido: 

“Venham a mim, todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso. Sejam meus seguidores de verdade, e aprendam comigo, que sou manso e humilde de coração, e encontrarão descanso para as suas almas. Porque o que exijo de vocês é suave e muito mais leve, do que os fardos que a vida impõe a vocês”

Com carinho, 
Rev. Dr. Robinson Grangeiro Monteiro
Chanceler do Mackenzie

Autor: Chancelaria do Mackenzie   |   Visualizações: 480 pessoas
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